quarta-feira, outubro 06, 2010
A melancolia bruta das noites em branco
Depois desta magnífica entrevista de Anabela Mota Ribeiro a Mónica Marques no ípsilon, que começa com a sugestiva pergunta «Com que então, "puta bruta e melancólica"...» - que nos deixou com vontade de voltar aos tempos do analfabetismo pré-primário para poder aprender de novo a ler e a contar ao compasso das observações sapienciais de entrevistada e entrevistadora sobre suadelas de quatro joelhos e outros deleites -, O Andaime não consegue deixar de partilhar uma outra (pequena) entrevista. Mas desta vez é Anabela que responde: veja aqui.
sábado, outubro 02, 2010
sexta-feira, outubro 01, 2010
Dos ditadores que "pelo menos não roubavam" e de bigodes, botas e penteados à Paulo Bento
(A insistência incomoda. Mas quando incomoda muitas vezes, desacomoda. Perante diversas queixas enviadas pelos nossos leitores, que, embora elogiando a horizontalidade editorial de O Andaime e a versatilidade com que se debruça sobre diversos temas, se queixaram da falta de uma dimensão mais vertical e reflexiva, decidimos iniciar a publicação de uma série de curtos ensaios. O carácter horizontal da nossa escrita - explicamos antes de mais - deve-se a um facto simples: escrevemos deitados. O hábito foi adquirido depois de tomarmos conhecimento, junto de meios académicos bem informados, que as 95 teses que Lutero afixou nas portas da igreja de Wittenberg lhe surgiram na casa de banho: num momento de intimidade, portanto. Mimetizamos a intimidade, recusando, não obstante, posições confrangedoras e pietistas. Estamos abertos a sugestões para temas que o caro leitor queira ver aprofundados)
A vários ditadores europeus do século XX foi atribuída uma das virtudes mais desejadas pelos povos para os seus líderes: a honestidade. A célebre frase "pelo menos não roubava!" escuta-se ainda nos dias que correm, desde os mais profundos recantos de Portugal à mais obscura tundra soberana, passando pelas mesetas e cordilheiras espanholas e até pelas florestas bávaras. De Salazar e de Franco, e até de Hitler e de Estaline, diz-se ainda hoje, com saudade, que não roubavam.
Mas o que numa primeira análise poderá parecer uma incongruência de carácter (como juntar atrás do mesmo bigode, dentro das mesmas botas ou debaixo do mesmo corte de cabelo à Paulo Bento uma virtude tão apreciada como a honestidade e defeitos tão censuráveis como o mau gosto na escolha da indumentária ou na decoração dos campos onde foram parar os prisioneiros políticos - desde os gulags ao Tarrafal?) não é.
Nenhum destes vultos - alguns deles eleitos como os melhores espécimes de toda a história dos países cujos destinos conduziram - tinha verdadeira necessidade de roubar. E, aqui, realce-se uma nova virtude (a inteligência) e ainda um sucedâneo desta (a astúcia). Pois só um idiota rouba o que é seu, e o erário público era seu já. Ainda que não estivesse em seu nome. E entra depois a astúcia. Já todos sabemos quão pesado é suportar a dureza dos encargos fiscais. Image-se agora os descontos de IRS de um cidadão que não só é dono de todas as cidades de um país, mas também de todas a vilas, aldeias e ainda de todos os campos - de cultivo e baldios. A solução é simples e elegante. Põe-se tudo em nome do povo. E ao povo, por esta razão, competirá responder ao fisco.
Vozes sabedoras explicam até que uma das razões da devassidão de que se queixam muitos cidadãos em regimes democráticos é a facilidade como que se elege e depõe um governo, um presidente ou uma assembleia legislativa. A explicação é simples, e não mais do que um sinal dos tempos, como quase todos os sinais o são: os políticos actuais, no conhecimento de que não ocuparão os seus cargos para sempre - como fizeram até morrer (ou alguém os matar) os antigos ditadores - sabem que têm pouco tempo para se governarem, enquanto estiverem no governo. Assim, fazem o melhor que podem com o pouco tempo que têm. Pode duvidar-se da presença da honestidade. Mas de falta de inteligência, de astúcia e de uma bela conta bancária na Suíça ninguém os poderá acusar.
Congelar contra o aquecimento global
Se há algo com que O Andaime se congratula, é com a política do governo português em matérias ambientais.
Colocando de parte o mau ambiente que se respira nas salas onde se mistura oposição e executivo (que está bem), e sem tirar o mérito aos enxota moscas gigantes erguidos nas nossas colinas e montanhas (que estão muito bem também), o premier Sócrates decidiu combater os rigores das altas temperaturas estivais com uma nova táctica. À base de congelados: especialmente de salários e pensões.
Quem pensasse que nas últimas eleições estaria a votar em alguém sem iniciativa própria e sem capacidade de ir além das promessas feitas quando colocasse uma cruz a favor do nosso primeiro, enganou-se. Porque se há coisa em que o nosso primeiro é mestre é não em rasgar compromissos mas em ir além deles. E o Além, depois das últimas décadas de alternância de poder em Portugal, é algo a que todos cada vez mais aspiramos.
Com virgens e bolos se enganam os tolos, dir-nos-ão os néscios. Aos néscios apenas diremos que antes tolos, se bolos e virgens nos derem. E face à crescente escassez de uns e de outras talvez não seja má ideia ir congelando, como recomenda o primeiro, e guardar para tempos melhores. Se estes não chegarem, sempre ajudará a combater o aquecimento global.
Colocando de parte o mau ambiente que se respira nas salas onde se mistura oposição e executivo (que está bem), e sem tirar o mérito aos enxota moscas gigantes erguidos nas nossas colinas e montanhas (que estão muito bem também), o premier Sócrates decidiu combater os rigores das altas temperaturas estivais com uma nova táctica. À base de congelados: especialmente de salários e pensões.
Quem pensasse que nas últimas eleições estaria a votar em alguém sem iniciativa própria e sem capacidade de ir além das promessas feitas quando colocasse uma cruz a favor do nosso primeiro, enganou-se. Porque se há coisa em que o nosso primeiro é mestre é não em rasgar compromissos mas em ir além deles. E o Além, depois das últimas décadas de alternância de poder em Portugal, é algo a que todos cada vez mais aspiramos.
Com virgens e bolos se enganam os tolos, dir-nos-ão os néscios. Aos néscios apenas diremos que antes tolos, se bolos e virgens nos derem. E face à crescente escassez de uns e de outras talvez não seja má ideia ir congelando, como recomenda o primeiro, e guardar para tempos melhores. Se estes não chegarem, sempre ajudará a combater o aquecimento global.
Rentrée de O Andaime
Tal como os políticos, também os membros (e o tronco) de O Andaime andaram a banhos. Foi pouco mais de três anos de venturas e desventuras. Mas o descanso merecido foi gozado. Como estávamos com falta de material, dedicámos o nosso tempo, entre outras coisas, a implodir parte do sistema financeiro internacional e a assegurar que a Lindsay Lohan não deixaria a drogas, nem a Paris Hilton a sua promissora carreira no cinema de autor.
O silêncio foi longo. Mas, entenda-nos, apessoado leitor. Entre as cócegas com que estimulámos a crise do subprime e o botão de auto-destruição do Lehman Brothers fizemos a realidade gritar mais alto.
Agora, depois do anúncio das últimas medidas de austeridade, estamos prontos para não deixar que escape à batida das nossas teclas o pulsar desta sociedade que salta alegremente a pés juntos sobre a lama. Porque, como vocês sabem, nós adoramos lama! Especialmente quando combinada com epidérmicas curvas femininas. E porque este é um país onde está tudo a nu, não deixemos morrer as metáforas.
O silêncio foi longo. Mas, entenda-nos, apessoado leitor. Entre as cócegas com que estimulámos a crise do subprime e o botão de auto-destruição do Lehman Brothers fizemos a realidade gritar mais alto.
Agora, depois do anúncio das últimas medidas de austeridade, estamos prontos para não deixar que escape à batida das nossas teclas o pulsar desta sociedade que salta alegremente a pés juntos sobre a lama. Porque, como vocês sabem, nós adoramos lama! Especialmente quando combinada com epidérmicas curvas femininas. E porque este é um país onde está tudo a nu, não deixemos morrer as metáforas.
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