Na noite do dia 24 de Janeiro, o gabinete de Santana Lopes tratou de informar os cidadãos do burgo de que o primeiro-ministro estaria a acompanhar "pessoalmente as acções em curso no sentido de minorar os efeitos" da anunciada "vaga de frio".
Uma hora depois, na mesma noite, o mesmo gabinete dá conta de que Lopes acabara de cancelar a sua agenda para esse dia e para o dia seguinte, por estar com "anginas e gripe" e por ter sido aconselhado medicamente a fazê-lo.
Até aqui tudo normal. Como sabemos no país a época é de caldos de galinha e agasalho e a simples constipação, até ver, é democrática.
No entanto, o espanto surge (ou não) quando no dia seguinte Lopes surge, não de robe à porta de casa saudando a plebe, mas cumpridor - embora com ar de que vergado não parte – carregando as dores e lombalgias de um país que, parece, faz mal às costas dos governantes.
Lopes pica o ponto. Apresenta-se. Mesmo combalido volta à lida, e de Guterres a Sampaio ninguém escapa.
Mas se Lopes consegue enxotar a "recomendação médica" de abafo caseiro, tem ainda tempo para fazer uma visita aos Hospitais Universitários da Universidade de Coimbra, no meio da agenda ex-cancelada, onde recolhe mais uma "medalha", que o povo saberá reconhecer dia 20 de Fevereiro – o Lopes tem uma hérnia inguinal –, e mais uma "recomendação médica": a da moderar o esforço físico, que amanhã provavelmente será enxotada também, a bem da nação.
O corte aplaude o esforço e assinala com admiração o líder. Mas a plebe, que até perdoa a sobrecarga do banco hospitalar e dá a vez a Lopes na triagem da urgência, poderá não compreender o zelo e desconfiar. É que português que se preza não dispensa baixa e talvez no dia 20 prefira um Lopes que prefira partir que vergar.
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