sábado, janeiro 29, 2005

Lopes… processa-nos a todos!

As recentes sondagens dizem que o pessoal do burgo não gosta do Lopes.

Como qualquer líder que se preze e não gosta que lhe toquem nos galões, o Lopes faz birra, bate o pé, esperneia, estrebucha e desembucha: "Isto demonstra que está montada uma mega-fraude em torno desta matéria", ameaçando com “processos” quem no momento da verdade tiver falhado com ela agora.

Hoje, depois de apaziguados os delírios gripais, Lopes deixou pousar as areias, e já disse que a “mega-fraude” a que se referiu é “política” e “não de outro tipo”.

E claro, o povo cala, com medo de parecer demasiado idiota se perguntar ao Lopes: Mas então, quantos tipos de fraude há?, ou: Mas então, o que é fraude política?, ou: E os processos também serão políticos?, ou: E se as sondagens estiverem mesmo certas, que consequências é que haverá?

É claro que isto são tudo perguntas que não se fazem. Quando a questão foi tão bem explicada pelo Lopes, pedir esclarecimento revelaria no mínimo falta de inteligência. Além do mais, como sabemos, uma das virtudes do Lopes (que já a tinha mesmo antes de ser chefe) é a oratória – o dom da palavra e da argumentação.

Mas mesmo assim – que o Lopes nos perdoe o atrevimento – gostaria de lhe deixar em nome de todos os que sentem que ele foi um bocadinho duro, um pedido:

Lopes, deixa lá os senhores das sondagens!

Aliás processar essas empresas por falharem as previsões seria o mesmo que levar a tribunal os senhores da meteorologia por ter anunciado uma “vaga de frio” ou o médico que te diagnosticou “anginas e gripe”, porque a forma como pronunciaste “mega-fraude” sem tremer nem tossir (bem, pelo menos na palavra “mega-fraude”), Lopes, não é para garganta inflamada ou pulmão entupido.

Já imaginaste, Lopes, o que seria agora processar a Maya por trocar as previsões de Carneiro pelas de Capricórnio?

Não, Lopes. Processa-nos a nós!

Oferecemos-te a nossa pequena e frágil pessoa jurídica, para que nos possas castigar, porque por tibieza te negamos - com vontade de fazê-lo três vezes - por não compreendermos os teus mistérios. Aqueles que nos disseste serem "os mistérios que só dia 20 de Fevereiro poderemos desvendar".

P.S. E já me esquecia, Lopes. Também estamos contigo nisso do não pagamento dos impostos, pois como tão bem nos explicaste, "às vezes pode haver uma questão de juros, como com todos os cidadãos que vivem dos seus salários".

ESTAMOS CONTIGO ATÉ AO (TEU) FIM

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Uma cruzinha nos dois

Há um indivíduo no burgo com quem o Lopes não se dá. Aliás, não se dá ele nem os amigos dele. Porque coisa que não falta ao Lopes é fidelidade canina por parte dos seus amigos – mesmo daqueles que se chamam Chaves, Pacheco, Aníbal ou Rebelo.

Esse indivíduo é o Zé.

Ora, o Zé não é que seja inimigo do Lopes. O que sucede é que este parece ter-lhe descoberto fraquezas naturais em recreio de escola e desde então chama-lhe nomes e mostra-lhe a largura da língua sempre que pode.

Porém, o Zé cresceu, fez amigos, e agora quer mandar no pátio.

Como todo o caminho para a liderança exige estratégia, o Zé adoptou a dele, que é algo parecida com a do Lopes – como sole acontecer nestas relações mais psicológicas que carnais –, e baseia-se em duas convicções: a primeira, que o pessoal do burgo é estúpido; e a segunda, que gosta de voz firme e que isso basta para, crédulo, assentir num aceno de orelhas tudo o que diga o Lopes ou o Zé.

É por estas razões que as qualidades discursivas de ambos privilegiam mais o conteúdo que a forma, enviando o mais básico dos aristotelismos para as couves.

A forma é relativa, aliás o Lopes ainda há dias se estava borrifando para a forma, e mesmo sem estar em forma lá foi ele aspergir de espirros gripais umas placas com o seu nome na zona centro – só em Poiares aviou onze em hora e meia. Mas se a obra estava feita... Isso das críticas deve ser só conteúdo.

Já o Zé, por exemplo, num golpe de alva erudição levantou a ponta do lençol e disse-nos que os Cirver “não existem”, e que essas mistico-gasosas unidades de tratamento de resíduos industriais perigosos provavelmente não passam da consequência psicotrópica de tabaco marroquino mal fumado por um amigo de um amigo do Lopes – o Guedes.

Se no caso anterior o Lopes ilustrou a importância da forma, neste caso o Zé ofereceu-nos um belo exemplo como o conteúdo (desta vez o do cigarro do Guedes) é importante.

É por isso que quando o Lopes diz: "debates", o Zé responde: "co-incineração".


Nenhum deles quer o que exige, mas dito com convicção até nos parece - a nós macaquinhos do burgo - que cada um deles está no galho certo.

É por isso que a 20 de Fevereiro vou pôr uma cruzinha nos dois.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Afinal há circo mesmo com "urso" constipado

Na noite do dia 24 de Janeiro, o gabinete de Santana Lopes tratou de informar os cidadãos do burgo de que o primeiro-ministro estaria a acompanhar "pessoalmente as acções em curso no sentido de minorar os efeitos" da anunciada "vaga de frio".

Uma hora depois, na mesma noite, o mesmo gabinete dá conta de que Lopes acabara de cancelar a sua agenda para esse dia e para o dia seguinte, por estar com "anginas e gripe" e por ter sido aconselhado medicamente a fazê-lo.

Até aqui tudo normal. Como sabemos no país a época é de caldos de galinha e agasalho e a simples constipação, até ver, é democrática.

No entanto, o espanto surge (ou não) quando no dia seguinte Lopes surge, não de robe à porta de casa saudando a plebe, mas cumpridor - embora com ar de que vergado não parte – carregando as dores e lombalgias de um país que, parece, faz mal às costas dos governantes.

Lopes pica o ponto. Apresenta-se. Mesmo combalido volta à lida, e de Guterres a Sampaio ninguém escapa.

Mas se Lopes consegue enxotar a "recomendação médica" de abafo caseiro, tem ainda tempo para fazer uma visita aos Hospitais Universitários da Universidade de Coimbra, no meio da agenda ex-cancelada, onde recolhe mais uma "medalha", que o povo saberá reconhecer dia 20 de Fevereiro – o Lopes tem uma hérnia inguinal –, e mais uma "recomendação médica": a da moderar o esforço físico, que amanhã provavelmente será enxotada também, a bem da nação.

O corte aplaude o esforço e assinala com admiração o líder. Mas a plebe, que até perdoa a sobrecarga do banco hospitalar e dá a vez a Lopes na triagem da urgência, poderá não compreender o zelo e desconfiar. É que português que se preza não dispensa baixa e talvez no dia 20 prefira um Lopes que prefira partir que vergar.