quinta-feira, janeiro 27, 2005

Uma cruzinha nos dois

Há um indivíduo no burgo com quem o Lopes não se dá. Aliás, não se dá ele nem os amigos dele. Porque coisa que não falta ao Lopes é fidelidade canina por parte dos seus amigos – mesmo daqueles que se chamam Chaves, Pacheco, Aníbal ou Rebelo.

Esse indivíduo é o Zé.

Ora, o Zé não é que seja inimigo do Lopes. O que sucede é que este parece ter-lhe descoberto fraquezas naturais em recreio de escola e desde então chama-lhe nomes e mostra-lhe a largura da língua sempre que pode.

Porém, o Zé cresceu, fez amigos, e agora quer mandar no pátio.

Como todo o caminho para a liderança exige estratégia, o Zé adoptou a dele, que é algo parecida com a do Lopes – como sole acontecer nestas relações mais psicológicas que carnais –, e baseia-se em duas convicções: a primeira, que o pessoal do burgo é estúpido; e a segunda, que gosta de voz firme e que isso basta para, crédulo, assentir num aceno de orelhas tudo o que diga o Lopes ou o Zé.

É por estas razões que as qualidades discursivas de ambos privilegiam mais o conteúdo que a forma, enviando o mais básico dos aristotelismos para as couves.

A forma é relativa, aliás o Lopes ainda há dias se estava borrifando para a forma, e mesmo sem estar em forma lá foi ele aspergir de espirros gripais umas placas com o seu nome na zona centro – só em Poiares aviou onze em hora e meia. Mas se a obra estava feita... Isso das críticas deve ser só conteúdo.

Já o Zé, por exemplo, num golpe de alva erudição levantou a ponta do lençol e disse-nos que os Cirver “não existem”, e que essas mistico-gasosas unidades de tratamento de resíduos industriais perigosos provavelmente não passam da consequência psicotrópica de tabaco marroquino mal fumado por um amigo de um amigo do Lopes – o Guedes.

Se no caso anterior o Lopes ilustrou a importância da forma, neste caso o Zé ofereceu-nos um belo exemplo como o conteúdo (desta vez o do cigarro do Guedes) é importante.

É por isso que quando o Lopes diz: "debates", o Zé responde: "co-incineração".


Nenhum deles quer o que exige, mas dito com convicção até nos parece - a nós macaquinhos do burgo - que cada um deles está no galho certo.

É por isso que a 20 de Fevereiro vou pôr uma cruzinha nos dois.

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